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Intervenção Precoce: O Que Precisamos Saber?

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Ao  discutirmos  sobre  Transtorno   do  Espectro   Autista,  algumas  questões  logo surgem. Uma se relaciona a qual o momento que a família precisa buscar profissionais para iniciar a intervenção. Essa pergunta é imediatamente seguida por respostas como: “quanto antes melhor” ou “não há tempo a perder” ou “tempo é cérebro”, descrevendo a importância da precocidade da intervenção.

Mas o que é intervenção precoce? Por que os profissionais a definem como uma intervenção fundamental para o desenvolvimento da criança com TEA?

De acordo com a Associação Brasileira de Pediatria (2019) a Intervenção Precoce é um conjunto de modalidades terapêuticas que visam aumentar o potencial do desenvolvimento   social   e   de comunicação da criança, proteger o funcionamento intelectual,  reduzindo danos, melhorar a  qualidade de vida e dirigir competências para autonomia.

Fica claro assim que a intervenção precoce não é um campo de domínio da análise do comportamento, mas a Análise do Comportamento é uma das abordagens da psicologia que desenvolveu um modelo de intervenção precoce com bases científicas, e que compõem a equipe multidisciplinar que realiza esse tipo de intervenção. Quais ascaracterísticas dessa intervenção baseada nos princípios analíticos comportamentais?

 A primeira coisa que precisamos ter clareza é que a intervenção precoce, é um Modelo de Tratamento Abrangente que tem por   objetivo desenvolver a criança em vários conjuntos de habilidades. (Steinbrenner, J. R., Hume, K., Odom, S. L., Morin, K.L., Nowell, S. W., Tomaszewski, B., Szendrey, S., McIntyre, N. S., Yücesoy-Özkan, S.,& Savage, M. N., 2020). Crianças com autismo não desenvolvem no ritmo esperado nos domínios de linguagem, social, brincar e, em muitos casos, no domínio cognitivo. A aprendizagem incidental é prejudicada pelo déficit em iniciação social e atenção compartilhada. Intervenção precoce objetiva acelerar a taxa de aprendizado da criança, produzindo generalização das habilidades     e maximizando os efeitos da neuroplasticidade. (Bairrão e Chaves, 2002).

Esse modelo teve como ponto de partida o estudo de Loovas (1987). Neste estudoo autor comparou o desenvolvimento de dois grupos: um grupo experimental e um grupocontrole. O grupo experimental   foi  composto   por   crianças   que   recebiam   até   40h de intervenção e o Grupo Controle era composto por crianças que tinham acesso até 10h. A intervenção de ambos os grupos consistia em programas individualizados de ensino e
abordavam vários comportamentos alvo. Os resultados mostraram que  47% do  grupo experimental  atingiram desempenho próximo ao típico  e  foram integrados em classes regulares, enquanto no grupo controle somente 2%.

McEachin, Smith e Lovaas (1993) avaliaram se os efeitos da intervenção comportamental precoce intensiva persistiram. Examinadores “cegos” avaliaram as crianças do estudo de Loovas (1987) agora com media entre 10 e 13 anos de idade. Eles puderam   constatar que dos 9 sujeitos experimentais que alcançaram os melhores resultados aos 7 anos de idade, 8 deles eram indistinguíveis da média das crianças em testes de inteligência e comportamento adaptativo, mostrando dessa forma que a intervenção precoce pode produzir efeitos relevantes a longo prazo.

Baseado no estudo de Loovas (1987) a intervenção precoce adquiriu as seguintes características: procedimentos de ensino específicos referenciado para treinamento discriminatório, uso de uma proporção de 1:1 adulto para criança nos estágios iniciais do tratamento e implementação em casa ou nas configurações da escola para uma faixa de 20 a 40 horas por semana durante um a quatro anos de vida da criança. (Reichow,Hume, Barton, Boyd, 2018)

Entre as pesquisas que avaliam o impacto da intervenção precoce,   Rodgers, Marshall, Simmonds, Le Couteur, Biswas, Wright (2020) descrevem que tal intervenção impacta na saúde física e mental, nos custos médicos, na assistência social, custo por ano de vida ajustado pela qualidade de vida, nos custos e na realização educacional, noemprego, nas amizades e relacionamentos e   na independência.   Landa  (2018) afirma ainda que as crianças pequenas com TEA se beneficiam ainda mais se seus pais aprendem a implementar estratégias de engajamento responsivas à criança quando um treinamento  de pais é fornecido. As evidências apoiam a combinação de intervenção mediada pelos pais e por profissionais para maximizar os ganhos de  desenvolvimento infantil

Essa intervenção precisa ser acessível a bebês ou crianças pequenas mostrando sinais de atrasos sociais e de comunicação, mesmo quando esses sinais são insuficientes para o diagnóstico   de TEA. O enriquecimento ambiental ou de desenvolvimento é importante para o desenvolvimento de todas as crianças.

Referencias Bibliográficas

Lovaas,   O.   I.   (1987).   Behavioral   treatment   and   normal   educational   and   intellectual functioning in young autistic children. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 55, 3-9.

McEachin, J.J., Smith, T., & Lovaas, O.I. (1993). Long-term outcome for children with autism who received early intensive behavioral treatment. American Journal on Mental Retardation. 97, 359- 372.

Steinbrenner, J. R., Hume, K., Odom, S. L., Morin, K. L., Nowell, S. W., Tomaszewski, B., Szendrey, S., McIntyre, N. S., Yücesoy-Özkan, S., & Savage, M. N. (2020). Evidence-based practices for children, youth, and young adults with Autism. TheUniversity of North Carolina at Chapel Hill, Frank Porter Graham Child Development Institute, National Clearinghouse on Autism Evidence and Practice Review Team.

Reichow B, Hume K, Barton EE, Boyd BA. (2018) Early intensive behavioral intervention (EIBI) for young children with autism spectrum disorders (ASD). Cochrane Database of Systematic Reviews, Issue 5.

Rodgers M, Marshall D, Simmonds M, Le Couteur A, Biswas M, Wright K, et al.Interventions based on early intensive applied behaviour analysis for autistic children: a systematic review and cost-effectiveness analysis. Health Technol Assess 2020;24 (35).

Rogers, S. J., Dawson, G., Vismara, L. A. (2012). Autismo. Compreender e agir em família. Lisboa, Portugal. Ed. Lidel.

Equipe Envolve
Neurologista Infantil - CRM ES 9055